quinta-feira, 29 de março de 2018

Maria e a Estrudes

Abro a porta com alguma dificuldade, range… (parece a porta de um castelo abandonado).
Entro cautelosamente, mas os meus passos fazem eco… 
Em tempos esta casa era habitada e tinha vida, estas paredes presenciaram tanta coisa, e as visitas que recebia dos amigos e pessoas curiosas com os seus comentários e observações, eram tão bem vindos.

Hoje parece um museu de experiências e sentires, uma casa cheia de fantasmas… Há tanto tempo que não vinha aqui…

(Afasto as cortinas das janelas e deixo entrar claridade)


Sopro a poeira, abro o livro e passo os olhos pelos textos que escrevi. Cada um lembra-me uma parcela da minha vida, retalhos da vida, de uma vida no meio de tantas. 
Lamento não ter escrito mais, queria ter escrito muita coisa detalhadamente, tenho medo de me esquecer de algumas experiências ou de algumas pessoas que mesmo que por pouco tempo, passaram pela minha vida e a marcaram.
Pessoas e experiências que me ensinaram a ser ou não ser, a agir de uma maneira ou de outra, a estar mais alerta com o caminho que sigo, em suma aprendi a andar de forma a não cair.

Hoje compreendo que foi tudo parte de um processo. Um processo que fez com que eu me tornasse na pessoa que sou hoje, e eu gosto de mim.
Enfim, hoje apeteceu-me acordar a viajante arrependida um pouco pesada pela culpa de não ter registado algumas recordações merecedoras. Mas comprometo-me aqui a tentar aparecer com mais regularidade. 

…por vezes necessitamos de passar nos mesmos sítios mais tarde… quanto mais não seja para podermos afirmar que não os queremos viver de novo

Li algures esta frase e concordo plenamente, sabe bem reler-me e saber que a vida evolui e que o ontem não é igual ao hoje…
Assim sendo… vou pedir à Dona Estrudes ( empregada a dias), para fazer uma limpeza a casa, retirar os lençóis de cima das mobílias, arejar, encher o bar de “drinkis”, atestar o pote das bolachas e a bomboneira, porque vou querer voltar!!!  : )
  
Beijinhos 

Maria Varredoura